a via continua aberta e as palavras estão aqui. ora perto ora longe do coração, da alma, do pensamento, da realidade. aqui hoje não se fez greve, e está tudo aqui (o que hoje se pode pôr)...porque hoje não há funcionalismo público, burocracia, carimbos, recibos...aqui não se passa nada disso. aqui não há espias contratados, sistemas de contagem de faltas, bufos...aqui volto sem registo de faltas, com sumários longos e pequenos, sem planos definidos...
este barco é a remos, à força da força, da vontade, do querer...
este barco é a remos, à força que outros dão...
e o vento, esse, tem os seus dias, os seus rumos e às vezes, como hoje, também ele não fez greve.
a música que me fez parar foi a mesma que me diz que tu mudaste e eu mudei, e que um dia destes nos vamos reencontrar e nada mais sei, e apenas sei que é uma história para contar, para viver, para trocar por poemas.
está frio, muito frio lá fora e as folhas que estão no chão vão voar e vão dizer-nos ao ouvido o que nos falta ouvir...
e este texto podia ser um poema, uma rima pintada com as cores da paixão, um soneto embrulhado numa caixa com um laço encarnado, um ramo de flores com uma dedicatória...
sou curioso e apetecia-me também uma comédia (à portuguesa), porque não esperava mais do que isso.
não sou de me impressionar, mesmo nada, por tabús, medos, rótulos, pensamentos feitos, maniazinhas de intelectualoídes, estrelas de críticos de cinema, bairrismos aparvalhados. mas sou de me impressionar com o que vejo. e nada como ver, para crer, aquilo que afinal eu pensava e assim se confirmou.
um filme, de histórias soltas (sem princípio, meio e fim), mas que também, e vá lá, se encontra nos maus filmes estrangeiros. um senão (positivo) em todo o filme é a qualidade dos actores (que dá pena ali estarem).
desafio-te a que olhes para mim, que decores as cores dos meus olhos e eu decoro a cor dos teus lábios. desafio-te a que toques na minha mão, não por um acaso, mas por uma vontade simples e delicada, e mais tarde me apertes e sintas todos as linhas do destino. desafio-te a tomares comigo um copo de vinho de porto e a veres na minha cara as cores rosadas deste desafio. que te abrigues comigo no mesmo guarda-chuva, guarda-sol...desafio-te a isso que tu tens vontade...desafio-te a era uma vez...
nunca fui de gostar da chuva, salvo raras boas excepções. agora, chover já não é grave.
é. por aqui chove. chuvemos. chovem-nos. mergulhamos e patinamos nesta chuva que vai passar a aguaceiros, provavelmente com um ligeiro sono e preguiça matinal.
não tenho os deliciosos comentários para um boletim meteorológico mas temos, felizmente, os comentários de Mário Crespo, e então, sim hoje sim ...hoje chove. e em 19 de Novembro de 1819 inaugurava-se o Museu do Prado em Madrid, em Espanha...
cada dia que passa tenho mais a certeza que tenho estado a fazer as malas para outra viagem. sinto-o no nervoso míudinho, na ansiedade. parece que já comprei o bilhete, mas ainda não sei a hora da partida, em que asas vou voar, nem que me vai acolher, nem onde vou me vou reabastecer. tudo em volta dá grandes empurrões para esta viagem e talvez eu saiba a necessidade desta viagem, mas para já ainda não quero ter essa certeza. aguento-me à força dos empurrões.
podia encher esta, mais que quase viagem, de pérolas da escrita: metáforas, personificações, comparações, citações, redundâncias para a fazer crescer de inigmas e sugestões e interpretações. podia gramaticar num estilo moderno, à luz de uma crónica de uma revista de primeira tiragem mundial...mas nada deixaria de me fazer sentir, na primeira pessoa, essa tal viagem que tem dia marcado.
quando tiver a hora e o dia, se isso interessar e se eu me vier a aperceber, terei a certeza de que ela aconteceu e eu viajei.
quando gostamos daquilo que fazemos. quando gostam do que fazemos. quando descobrimos que nos acolhem, que nos provam as palavras e nos afagam. quando descobrimos que se lembram de nós.
quando se constroí uma história assim, a memória é a letra de uma canção que nunca esquecemos e que de quando em vez, e muitas vez, repetimos com satisfação, com alegria, e com emoção tamanha.
o coração fervilha e a voz treme. está no sangue que recorda esse caminho ganho.
não há uma estátua, não há cubos de gelo, mas sim a própria saudade.
natal em outubro, em novembro, em dezembro. mal terminara o verão e mal começara o outono e já as montras nos mostravam o natal...queriam-nos e querem-nos comer os olhos que ainda respiram e guardam um verão tão presente, ainda. querem-nos comprar, que compremos, que abusemos, que demos uso a um qualquer cartão.
é um fora de tempo.
nem para toda a gente o natal é uma coisa bonita e que traga saudades bonitas. mas não é só isso, é um estragar das tradições que mais gostamos, é um esgotar das luzes que tanto gostamos de observar, é um repetir sucessivo das canções que adoramos...
um exagero em três meses. mas nada mais há a dizer para não empolar ainda mais este sentimento natalício que parece já pairar em cada esquina deste Porto e de outros portos.
às vezes...mudamos de morada, trocamos de sapatilhas, despenteamos o cabelo, passamos a olhar para outras pessoas, mudamos o formato do sorriso, damos cores diferentes aos nossos sonhos, mudamos de café para descafeínado, escolhemos aquele vinho que nunca tinhamos provado, provamos uma comida que nunca comemos, passamos a gostar do outono em vez do verão, esquecemo-nos de paris e preferimos dubrovnick, recolhemos as cores e passamos a vestir de escuro, começamos a correr em vez de passear, colocamos um outro perfume que nos identifica, escolhemos mudar o sabor e a textura do amor...
às vezes tudo ao mesmo tempo ou com o tempo. à espera, ou à nossa espera. às vezes... é normal. um dia dizem-nos que mudamos. um dia pensamos que vamos mudar. um dia passamos às certezas, talvez amanhã.