no teu poema existe um verso em branco e sem medida, um corpo que respira, um céu aberto, janela debruçada para a vida. no teu poema existe a dor calada lá no fundo, o passo da coragem em casa escura e, aberta, uma varanda para o mundo. (...)
E
já gastámos as palavras. quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada. e no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. (....) o passado é inútil como um trapo. e já te disse: as palavras estão gastas.
nas palavras que rebolam pela areia, nos dedos que sentem e tentam ficar com a areia toda, na luz do fogo de artíficio, num 25 de abril de sempre, numa noite sentado a metros de uma outra história, em três dias longe de uma casa e perto de outra (sim, já tens todo esse valor).
desculpa a hora tardia a que te chamo casa. talvez porque foste sonhos durante anos a fio, vai para lá de uma década...és a casa em que sonhei múltiplos verões e na qual me concretizei. afinal foste a casa onde caí e sabes? sabes agora todo o resto...
como num primeiro encontro nervoso, esperado, de dor de barriga, de palavras atropeladas...como numa saudade do depois do começo, dos encontros repetidos, das barrigas musculadas de riso, das palavras todas juntas em sintonia.
como aquela entrada naquela sala de sonho...como aquela sala de espectáculo que está por fazer.
estavámos lá, estamos do mesmo lado. muitas, muitas, muitas vezes...
tenho-o marcado, a espera por ti, a bica para tomar, o falar para adormeceres, o acreditar para existires, o não virar de costas, o olhar para ti, o escutar o que és, o ser diferente de ti, o ser calmante, o ser vitamina.